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Simplesmente ele
Depois de passar quase o dia todo em função do meu visto para o Vietnam, aproveite que perto da embaixada tem um parque famoso para dar uma passeada.
É um parque bonito, cheio de orquídeas e alguns templos chineses. Pessoas correm, alongam-se, cuidam do corpo. Mães passeiam com seus filhos bem arrumados. Casais apaixonados namoram de mãos dadas. Amigos riem em toalhas coloridas de piquenique.
Tem um parquinho colorido logo em frente e eu chego perto timidamente. Lembro com nostalgia dos meus dias de criança, de ir ao Parque Barigui e do esforço do meu pai para eu perder o medo da bola, medo que nunca perdi.
Ele me dá um sorriso e me chama com suas maõzinhas pequenas e sujas. Vem aqui, vem aqui. Eu sorrio e vou. Conversamos com sorrisos mostro a minha camera e pergunto com minhas mãos se posso tirar uma foto daquele menino de pés descalços. Ele sorri e eu tiro a primeira.

Vem aqui, vem aqui
Ele faz sinal com a mão para eu ir ao escorregador e corre. Eu sigo. Ele pede para eu subir. Eu subo. Descemos quase juntos e sorrimos calmamente. A nostalgia volta a conversar comigo, em forma de uma saudade doce. Agora imagino meu irmão de cabelos loiros brincando no parquinho do nosso prédio. E penso se minha irmã está escorregando em algum lugar de Curitiba ou quem sabe Morretes.
Mas deixo as lembranças no lugar do coração que elas devem ficar e continuo a admirar meu novo amigo. Agora estamos na balança e quando meu pé vai para cima sinto que estou realmente voando nesse novo velho mundo que tento decifrar com calma e impaciência.
Aponto para mim e digo “Luíza”, aponto para ele. Ele diz “Iche” ou soa algo assim aos meus ouvidos brasileiros. Meu amigo agora tem nome.
Iche aponta para o lago e corre eu corro também. Ele me mostra um enorme lagarto nadando rapidamente, aponta e diz “lagarto” (obviamente em tailândes, mas a minha memória e ouvido são fracos e não memorizam). Ele então aponta para a minha máquina como quem diz:
- Vai lá, vai lá, tira uma foto!
Tiro várias.
Agora ele corre em direção a um pequeno templo chinês vermelho. Aponta para minha câmera novamente e agora ele está dizendo que quer tirar uma foto minha e do meu amigo francês.
Decido seguir em frente e dizer adeus ao meu novo amigo. Sinto uma estranha saudade.
Mas para minha surpresa e alegria quando já estou fora do parque olho para o lado e lá está ele! Iche pega na minha mão fortemente e corre um pouco, até um pequeno lago onde tem mais lagartos. Ele ri alegremente.
Nos despedimos novamente e subo uma ponte. Quando estou descendo, vejo que logo atrás de mim lá está meu novo amigo de pés descalços.
Sinto um aperto no peito. Uma vontade de pegá-lo no colo, perguntar porque ele não está na escola, se quer comprar sapatos e meu lábios sorriem, mas meu coração lacrimeja.
Vemos comida de rua, faço com as mãos “comer, comer, comer”. A dona da barraquinha fala inglês e peço para ela perguntar o que ele quer. Ele pede uns espetinhos e uma coca-cola. Foi um presente pequeno para a grande tarde que aquele menino majestal de roupa suja e sorriso sincero me proporcionou.
Agora quando olhar um escorregador tenho mais uma lembrança nostálgica:
Ele.

Por Luíza Salmon
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